Seja um triângulo e uma ceviana. Diremos que é ceviana isogonal de quando a semirreta for simétrica a em relação à bissetriz de .
Nesta definição, se for a bissetriz de , então e .
Simedianas[]
As simedianas são os isogonais das medianas. A simediana passando por é chamada de -simediana.
Conjugados Isogonais[]
Seja um triângulo qualquer e um ponto. Se refletirmos as retas e em relação as bissetrizes internas de , teremos três retas que se encontram em um ponto. Este ponto será chamado de conjugado isogonal de em relação a e será denotado por .
Conjugados Isogonais Comuns[]
O incentro é o próprio conjugado isogonal. Os ex-incentros também são seus próprios conjugados isogonais.
O baricentro e o ponto simediano (ponto de concorrência das simedianas, também chamado de ponto de Lemoine) são conjugados isogonais.
Como Traçar uma Simediana?[]
Sejam um triângulo qualquer e o círculo passando por e . Suponha que as retas tangentes a passando por e se encontram em . Então contém a -simediana.
Exemplo (Cone Sul 2009)[]
Sejam e pontos tais que é ponto médio do segmento e seja um ponto tal que . São construídos o triângulo equilátero tal que e estão em semiplanos diferentes em relação a , e o triângulo equilátero tal que e estão no mesmo semiplano em relação a . Seja o ponto de interseção das retas e ; seja o ponto de interseção das retas e . Demonstre que e são paralelos.
Solução: É suficiente mostrarmos que . Vamos começar encontrando uma simediana na figura. Mostraremos que contém a -simediana do triângulo . Para isto, provaremos que e são tangentes ao circírculo do triângulo . Para isto, é suficiente tomarmos o centro deste círculo e mostrarmos que .
Já sabemos que . É suficiente mostrarmos que . Sabemos que , de onde segue que o arco que não contém mede , enquanto o arco que contém mede . Logo, . Como , segue que .
Desta forma,
de onde segue que é tangente ao circuncírculo de . Analogamente, também é tangente. Com isso, contém a -simediana. Mais ainda, é a -simediana. Com isso, por definição, , onde é ponto médio de . Mas é base média do triângulo . Assim .
Lembra-se que queríamos provar que ? Para isto, por estas igualdades anteriores, basta mostrarmos que . Isto equivale a mostrarmos que o quadrilátero é inscritível.
Vamos ver se conseguimos informações sobre a figura, para nos ajudar a montar uma estratégia. Observe que e .
e
Desta maneira, , de onde segue que os triângulos e são congruentes pelo caso . Com isso, . Assim, o quadrilátero é inscritível. Se combinarmos isto com , conseguiremos a igualdade e assim é inscritível.
Portanto, e assim . Logo, e são paralelos.
Proposição[]
Em um triângulo , e são isogonais em relação ao ângulo . Se e são as projeções de sobre e , é perpendicular a .
Demonstração: Seja a interseção entre a reta e a reta . Como , o quadrilátero é cíclico. Sabe-se que e que , portanto , concluindo a demonstração.
Exemplo (OBM 2013 - 3ª Fase - Nível 2)[]
Seja um triângulo escaleno e a mediana relativa ao lado . A circunferência de diâmetro intersecta pela segunda vez os lados e nos pontos e , respectivamente, ambos diferentes de . Supondo que é paralelo a , determine a medida do ângulo .
Observação: Existe outra solução para esse problema na página de Lei dos Senos.
Solução. Repare que, como , pela proposição acima, a reta perpendicular a passando por é isogonal a , mas, como é paralelo a , a altura de relativa a deve ser isogonal a . Como o ortocentro e o circuncentro são conjugados isogonais, temos que a reta deve passar pelo circuncentro. Seja, então, o circuncentro de (que provamos que pertence a ); temos dois casos para determinar sua posição:
Caso 1: O ponto não coincide com .
Como e pertencem à mediatriz de , também está na mediatriz de e portanto . Como o enunciado especificou que o triângulo é escaleno, esse caso não vale.
Caso 2: O ponto coincide com .
A única maneira do ponto médio de um lado ser o circuncentro do triângulo é se esse lado for a hipotenusa de um triângulo retângulo. É possível verificar isso vendo que e , donde temos que e:
O que significa que .
Exemplo (OBM 2020 - Nível 3)[]
Seja um triângulo. Os círculos ex-inscritos (que tangenciam um lado e os prolongamentos de outros dois lados) tocam os lados , e nos pontos , e , respectivamente. Sejam a reta que passa por e é perpendicular a , a reta que passa por e é perpendicular a e a reta que passa por e é perpendicular a . Prove que as retas , e passam por um mesmo ponto.
Solução: A definição dessas retas está esquisita, vamos melhorá-la. Como é tangente ao círculo ex-inscrito em , o fato da reta passar por e ser perpendicular a indica que passa pelo centro do círculo ex-inscrito a , o ex-incentro relativo a . Assim, , e são, na verdade, as retas que partem dos ex-incentros e são perpendiculares a , e , respectivamente. Para conveniência, vamos considerar o ex-incentro relativo a como , definindo e analogamente.
Como as bissetrizes internas são perpendiculares às externas, se considerarmos o incentro de , os pontos , e são as projeções de sobre , e , respectivamente. Pela proposição que vimos acima, é a isogonal de no triângulo , analogamente, e são as outras isogonais, que vão passar pelo conjugado isogonal de em ! Para sermos mais específicos, como é o ortocentro de , o ponto de concorrência das retas será o circuncentro de .
Exemplo (IMO 2004)[]
Em um quadrilátero convexo a diagonal não divide nenhum dos ângulos e ao meio. O ponto no interior de satisfaz
e
Prove que é um quadrilátero cíclico se, e somente se, .
Solução: () Aqui é suficiente mostrarmos que pertence à mediatriz de . Como podemos usar as informações que o enunciado nos deu? Já que temos que é inscritível, podemos usar a nosso favor e por isso podemos falar sobre ângulos na circunferência. Como podemos falar sobre e na circunferência? Considere e pontos (diferentes de e , respectivamente) definidos com a intersecção de com e , respectivamente.
Já que queremos falar sobre , vale a pena ligar com e ver se esse segmento tem a ver com os ângulos que aparecem no enunciado. Observe que , pois ambos enxergam . O enunciado nos diz que tem a mesma medida que . Por isso, para usarmos essas ideias, vale a pena mexermos com esse último ângulo. Observe que este último ângulo enxerga o arco . O mesmo acontece com o ângulo . Desta forma, . Assim , de onde segue que é paralelo a .
Com isso, é um trapézio inscritível. Mas o único trapézio com essa propriedade é o isósceles. Com isso, é um quadrilátero deste tipo. Além disso, observe que os triângulos e são congruentes pelo caso (de fato, é lado comum, e ). Logo . Desta forma, e portanto .
() Suponha, sem perda de generalidade, que está no interior de e . Considere e os pontos onde intersecta e , respectivamente. Quando vemos e , pode ser natural pensar: "nossa, que cheiro de conjugados isogonais". A primeira igualdade nos diz que e são simétricos em relação à bissetriz de . Já com a segunda igualdade, podemos concluir que e são simétricos em relação à bissetriz de . Portanto, e são conjugados isogonais em relação ao triângulo .
Desta forma, podemos concluir que e são simétricos em relação à bissetriz de . Será que essa informação que conseguimos com conjugados isogonais nos ajuda a encontrar ângulos legais?
Considere e os pontos de encontro da bissetriz de (e seu prolongamento) com e , respectivamente. Como e são simétricas em relação a reta que passa pela bissetriz de , segue que . Além disso, como é uma bissetriz, segue que . Mas repare que e são opostos pelo vértice. Assim . Como e , segue que .
Eles parecem ser conjugados isogonais e assim simétricos em relação à bissetriz de . Vale a prestarmos atenção no triângulo , afinal nele existem os lados e e de alguma forma precisamos usar que eles são iguais. Como o triângulo é isósceles, segue que a bissetriz de também é a mediatriz de . Como essa mediatriz parece importante, vamos chamá-la de . Considere a intersecção entre e . Observe que e são simétricos em relação a essa mediatriz (de fato, os triângulos e são congruentes e assim , de onde segue que ).
Aqui parece ser um eixo de simetria. Conhecemos algum quadrilátero inscritível com eixo de simetria: sim o trapézio isósceles (o eixo de simetria seria o segmento que os pontos médios de suas bases). O trapézio isósceles é formado por dois pares de vértices simétricos em relação a esse eixo de simetria. Observe que é simétrico a em relação a . Tomemos o simétrico de em relação a . Repare que é um trapézio isósceles (de fato, é paralelo a pois ambos são perpendiculares a e ) e portanto é inscritível. Por isso, para resolvermos o problema, basta mostrarmos que é inscritível.
Uma maneira de fazermos isso é provarmos que . Uma das vantagens de termos que provar isso é que está se envolvendo com um dos ângulos que aparece em uma das igualdades do enunciado: . Como poderemos usar a igualdade do enunciado para falarmos mais sobre ? Note que pela igualdade do enunciado,
Podemos envolver e . Existe um ângulo "próximo" de que podemos envolver com . Observe os triângulos e . Neles (segundo o enunciado), (afinal é simétrico de em relação a ) e . Desta forma, esses triângulos são congruentes pelo caso . Assim . Para resolvermos o problema, seria suficiente mostrarmos que . Assim, basta mostrarmos que . Isso ocorre quando , e são colineares.
Vamos provar essa última afirmação. Como provar colinearidade? Uma maneira é mostrar que eles formam ângulos OPV, ou seja, podemos mostrar aqui que , onde é um ponto sobre a reta tal que está entre e . Acontece que está próximo dos ângulos e , justamente dois ângulos que sabemos ser iguais e que ainda não usamos essa informação.
Note que a igualdade nos diz que . Mas (pois eles são opostos pelo vértice) e (pois e são simétricos em relação a ). Desta forma, e assim , e são colineares. Desta forma, e assim é inscritível, de onde segue que também é.