Seja um ponto e um número real positivo. Então a circunferência é o conjunto de todos os pontos tais que . Neste caso, é o centro e o raio da circunferência. Por isto, geralmente falar circunferência de centro e raio . Existem alguns lugares que consideram este como sendo o círculo de centro e raio .
Uma circunferência pode ser representada por alguma letra, por exemplo, a letra grega gama maiúscula ou a letra grega gama minúscula . Se quisermos especificar que ela tem centro e raio podemos escrever (em alguns lugares podemos até ver ou ).
Um segmento que une dois pontos pertencentes a uma circunferência é chamado de corda.
Se uma corda passa pelo centro, ela é chamada de diâmetro. Neste caso, o centro é o ponto médio do diâmetro.
Dizemos que e são diametralmente opostos se for um diâmetro, como é o caso da figura acima.
Se é a medida do raio de uma circunferência, então o diâmetro mede .
Em qualquer círculo, a divisão entre o comprimento da circunferência (que chamaremos de ) e o do diâmetro (que denotaremos por ) resulta sempre no mesmo número, que é aproximadamente . Ele possui infinitas depois da vírgula. Este é chamado de , que é a letra minúscula grega pi (pois perímetro em grego começa com a letra grega π).
Se for o comprimento da circunferência (ou seja, o tamanho do contorno do círculo), então .
O pedaço da circunferência conforme a figura a seguir é chamado de arco.
Um arco que corresponde a metade de uma circunferência é chamado de semicircunferência.
Duas circunferências são chamadas de concêntricas se elas possuírem o mesmo centro.
Uma outra maneira que podemos pensar na circunferência é como sendo formada por pontos equidistantes ao centro (ou seja, quaisquer dois pontos estão à mesma distância do centro).
Observação[]
Dados três pontos não colineares, existe uma única circunferência que passa por eles.
A circunferência que passa pelos pontos e é denotada por .
Dizemos que quatro ou mais pontos são concíclicos se existe uma circunferência que passa por eles.
Observação[]
Considere uma circunferência de centro e raio . Então é menor que se, e somente se, está no interior do círculo.
Além disso, é maior do que se, e somente se, o ponto no exterior do círculo.
Definição[]
O conjunto de todos os pontos que estão no interior do círculo é chamado de disco. No caso da figura a seguir, o disco corresponde a parte em azul.
Em alguns lugares, a união da circunferência e do disco é chamada de círculo.
Observação[]
A distância entre dois pontos quaisquer no interior é menor do que .
Proposição[]
Uma boa maneira de encontrarmos o centro de uma circunferência é usarmos o seguinte:
"A mediatriz de uma corda sempre passa pelo centro da circunferência".
Retas Tangentes e Secantes[]
Uma reta é tangente a uma circunferência quando possui somente um ponto em comum com ela. Este ponto é chamado de ponto de tangência (ou ponto de contato).
Se ela possuir dois pontos em comum, dizemos que ela é secante.
Proposição[]
Seja o centro de uma circunferência e uma reta tangente à ela passando por . Então é perpendicular a .
Exemplo[]
Na figura a seguir, é ponto médio do segmento e este último segmento é tangente à circunferência. Prove que .
Solução: Como é ponto médio de , segue que . Além disso, como é tangente à circunferência, segue que . Se combinarmos essas duas afirmações com o fato de que é lado comum dos triângulos e , segue que esses dois triângulos são congruentes pelo caso . Desta forma, .
Exemplo[]
Se é tangente a uma circunferência em , é uma reta perpendicular a que passa por , prove que passa pelo centro da circunferência.
Solução: Seja o centro da circunferência. Se provarmos que coincide com , o problema estará resolvido. Sabemos que existe somente uma reta perpendicular a passando por . Mas e são duas retas que possuem essas características. Logo elas coincidem e assim passa pelo centro.
Como Provar Que uma Reta é Tangente à uma Circunferência?[]
Seja um ponto sobre uma circunferência de centro . Se for uma reta que passa por tal que é perpendicular a , então é tangente à circunferência.
Proposição[]
Sejam um ponto no exterior de um círculo e e pertencentes à circunferência tais que e são tangentes a ela. Então .
Proposição[]
Sejam um ponto no exterior de um círculo de centro e e pertencentes à circunferência tais que e são tangentes a ela. Então é bissetriz do ângulo .
Exemplo[]
Na figura e são tangentes às duas circunferências. Prove que .
Solução: Seja o ponto de intersecção entre e . Então e . Ao subtrairmos uma igualdade da outra:
Circunferência Inscrita[]
Uma circunferência inscrita (ou o incírculo) a um polígono é aquela que é tangente a todos os seus lados. Neste caso, dizemos que o polígono é circunscrito à circunferência. O centro da circunferência inscrita é chamado de incentro. O raio desta circunferência é chamado de inraio.
Todo triângulo possui um círculo inscrito.
Proposição[]
Seja um triângulo com , e de semiperímetro e considere uma circunferência inscrita a ele, cujos pontos de tangência aos lados e são, respectivamente, e . Então
Exemplo (OBM 2018 - Nível 2)[]
a) Num triângulo , o incírculo tangencia os lados e nos pontos e , respectivamente. Prove que
Seja um triângulo e o pé da altura relativa ao ponto . Sejam e os incentros dos triângulos e , respectivamente. Os incírculos de e tangenciam nos pontos e , respectivamente. Seja o ponto de tangência do incírculo inscrito de com o lado . O círculo de centro e raio intersecta a altura em .
b) Mostre que os triângulos e são congruentes.
c) Mostre que o quadrilátero é inscritível.
Solução:
a) Seja o ponto de tangência do incírculo com o lado , e seja o incentro de . Como a circunferência é tangente aos lados, . Além disso, como é uma bissetriz, , e, como é o centro do incírculo, .
Com essas afirmações, é possível dizer que , donde segue que . Analogamente, pode-se afirmar que e , daí:
Como queríamos demonstrar.
b) Sejam e os pontos de tangência dos incírculos de e com , respectivamente. Como é uma altura e , , e são pontos de tangência, conclui-se que
E, usando a primeira igualdade do item a), e , donde se conclui que e são quadrados.
Agora, vamos utilizar a segunda igualdade do item a). Como , temos que:
Utilizando-a mais algumas vezes:
Daí, pode-se verificar que, sabendo que :
Portanto . Vamos provar, então, que :
Como , e , os triângulos e são congruentes pelo caso LAL.
c) Como já foi estabelecido, e são quadrados, e como e são suas diagonais, vale que donde .
Pelo resultado do item c), e são congruentes. Como os dois são triângulos retângulos, , porém como , , donde . Sabendo que e são suplemetares, é possível afirmar que é inscritível e, nesse caso, num círculo de diâmetro .
Circunferência Circunscrita[]
Uma circunferência circunscrita a um polígono (ou circuncírculo) é aquela que passa pelos seus vértices. Neste caso, o polígono está inscrito na circunferência. O centro da circunferência circunscrita é chamado de circuncentro. O raio da circunferência circunscrita é chamado de circunraio e é geralmente denotado pela letra .
Exemplo (Cone Sul 2007)[]
Seja um pentágono convexo que satisfaz as seguintes condições:
Existe uma circunferência tangente a cada um de seus lados.
As medidas de todos os seus lados são números inteiros.
Ao menos um dos lados do pentágono mede .
O lado mede .
Seja o ponto de tangência de com o lado
(a) Determinar as medidas dos segmentos e .
(b) Dar um exemplo de um pentágono que satisfaz as condições estabelecidas.
Solução:
(a) Sejam e pontos de tangência de em e , respectivamente.
A estratégia a seguir será chamar a medida de de e relacionar as medidas dos outros segmentos com . Como , segue que e assim .
Se usarmos o mesmo raciocínio,
Como , segue que
Mas é um número inteiro (pois os lados do pentágono são números inteiros) e assim também será. Porém não pode ser tão grande assim. Com efeito, e assim , ou seja, .
Assim, , ou . Vejamos quais dessas a gente pode construir e quais não podemos. Veremos no item (b) construções para e .
Provaremos aqui que é impossível fazer um construção para , ou seja, . Para isto, veremos quais informações conseguimos a partir daqui e se alguma delas contradiz o enunciado.
Observe que . Mas e é um número inteiro. Desta forma, . Além disso, de onde segue que é número inteiro e assim (o que vale para , pois ).
Assim, , de onde segue que (pois é inteiro). Como e são inteiros e , segue que também é inteiro e com isso ele é maior ou igual a (o mesmo vale para pois ).
Daí é inteiro, pois e com isso , de onde segue que . Analogamente, .
Isso entra em contradição com o enunciado que diz que os pentágonos devem ter pelo menos um lado com medida igual a . Logo, ou , isto é, e ou e .
(b) Um exemplo para o caso (basta prolongarmos dois lados opostos de um hexágono):
Quanto ao caso , basta fazermos de forma análoga:
Circunferências Tangentes e Secantes[]
Duas circunferências são tangentes exteriores se elas possuem apenas um ponto em comum e cada uma delas está no exterior da outra.
Duas circunferências são tangentes em um ponto se, e somente se, existe uma reta que passa por e é tangente às duas circunferências.
Neste caso, a reta tangente passando por é perpendicular à reta que une os centros.
Além disso, duas circunferências são tangentes interiores se elas possuem apenas um ponto em comum e uma delas está no interior da outra.
Duas circunferências serão tangentes interiores em um ponto se, e somente se, existe uma reta que passa por e é tangente às duas circunferências.
O ponto em comum entre duas retas tangentes é chamado de ponto de tangência (ou ponto de contato).
Duas circunferências são secantes se possuem dois pontos em comum.
Proposição[]
Se duas circunferências são tangentes, os seus centros e o ponto de tangência são colineares.
Exemplo[]
Na figura, as retas , e são tangentes a ambas as circunferências. Se , , e são pontos de tangência, prove que , e são paralelos.
Solução: Observe que e são bissetrizes de . Desta forma, , e são colineares. Como é um triângulo isósceles e contém sua bissetriz relativa a , segue que é perpendicular a . De modo análogo, podemos provar que é perpendicular a . Como e coincidem, segue que e são paralelas.
Além disso, é perpendicular a , que coincide com . Com isso, também é paralela a e a .
Circunferências Ortogonais[]
As circunferências ortogonais são circunferências secantes de forma que os raios de uma circunferência até os pontos de interseção são tangentes à outra circunferência; essa relação é recíproca e implica que os raios das duas circunferências em relação aos pontos de interseção são perpendiculares, como na figura abaixo:
Quando duas circunferências são ortogonais, elas também podem ser chamadas de perpendiculares.
Exemplo[]
No triângulo , a circunferência de diâmetro intersecta e em e , respectivamente. Prove que e o circuncírculo de são ortogonais.
Solução: Como , e são alturas de e, portanto, se intersectam no ortocentro . Sendo o ponto médio de , centro de , temos que . Queremos provar que as dias circunferências são ortogonais, e isso equivale a provar que e são tangentes ao circuncírculo de . Para isso, usando a propriedade de ângulo de segmento, podemos provar que e teremos o resultado desejado.
Podemos usar o quadrilátero cíclico e concluir que , além disso, como , então , assim
.
Como , segue que é inscritível, donde , ou seja, , concluindo a prova.
Observação: É importante notar aqui que não precisamos do ponto : poderíamos definir o circuncírculo de como o circuncírculo de , sendo a interseção de e , e o resultado seria exatamente o mesmo. Essa ideia será útil no exemplo a seguir.
Exemplo (OBM 2015 - 3ª Fase - Nível 2)[]
Seja um quadrilátero convexo. As retas e cortam-se em e as retas e cortam-se em . Sejam e os pés das perpendiculares de sobre as retas e , respectivamente, e sejam e os pés das perpendiculares de sobre as retas e , respectivamente. As retas e se cortam em .
a) Mostre que há uma circunferência que passa pelos pontos , , , , e .
b) Prove que a circunferência que passa pelos vértices do triângulo é tangente à circunferência que passa pelos vértices do triângulo .
Solução:
a) Como , todos os seis pontos estão numa circunferência de diâmetro , que chamaremos de .
b) Tomemos como o ponto médio de . Vamos apagar os pontos desnecessários da figura e pensar no que vemos:
Temos uma circunferência de diâmetro , e , e são pontos em , de forma que é a interseção de e e é a interseção de e . Queremos saber sobre os circuncírculos de e ... parece uma boa hora para usarmos o exemplo anterior! Temos que as circunferências e são ortogonais, o que significa que e são tangentes a . Também pelo exemplo anterior, e são ortogonais, donde e são tangentes a . Disso, vemos que é uma tangente comum a e , e como é um ponto comum às duas circunferências, elas devem ser, portanto, tangentes.