Sejam , e pontos distintos. Dizemos que eles são colineares se existe uma reta que passa por eles. Caso contrário, dizemos que eles são não colineares.
Como podemos provar que três pontos são colineares? Existem várias estratégias.
1ª Estratégia: Provar que os pontos não formam um triângulo[]
Se , então , e são colineares.
Exemplo (Cone Sul 1991)[]
Dado um quadrado com lado e um quadrado dentro de com lado , determine (em termos de ) o raio do círculo tangente aos dois lados de e que toca no quadrado de lado .
Solução: Vamos nomear os vértices conforme a figura a seguir.
Seria muito legal se a diagonal passasse pelo centro do círculo e também pela diagonal . De fato, daí poderíamos concluir que
Vejamos que isto realmente ocorre.
Comecemos mostrando que pertence a , ou seja, , e são colineares. Para isto, provaremos que eles não formam um triângulo. Observe que
ou
Sabemos que . Se provarmos que , então , de onde podemos concluir que A, C e O são colineares. Isto pode ser concluído do fato que e são congruentes.
Da mesma forma, podemos provar que está contida na diagonal . Como podemos usar a igualdade a nosso favor? Basta calcularmos , , e separadamente e depois substituirmos nela.
Note que , e . Resta determinarmos o valor de . Para isto, basta notarmos que é um quadrado de lado , de onde segue que .
Desta maneira,
2ª Estratégia: Provar que retas coincidem[]
Se as retas e coincidem, então , e são colineares.
Como provar que retas coincidem? Você pode se aproveitar dos seguintes fatos:
Dado um ponto e uma reta qualquer (passando ou não por ), existe uma única reta que passa por e é perpendicular a .
Dado um ponto e uma reta qualquer, existe uma única reta que passa por e é paralela à .
Por exemplo, pegar duas retas e mostrar que ambas passam por certo ponto e ambas são perpendiculares (ou paralelas) à determinada reta, então elas coincidem.
A bissetriz de um ângulo é única.
Exemplo[]
Sejam um triângulo, e pontos sobre e , respectivamente, com paralelo a .. Além disso, considere e sobre e , respectivamente, tais que e são perpendiculares a e , respectivamente. Prove que , e são colineares.
Solução: Basta mostrarmos que as retas e coincidem. Observe que estas retas são perpendiculares a e passam por . Porém, dado uma reta e um ponto fora dela, existe somente uma perpendicular passando por ela. Logo, e coincidem.
Exemplo[]
Na figura a seguir e são ambas tangentes às circunferências e de centros e , respectivamente. Além disso, é o ponto de encontro entre e . Prove que , e são colineares.
Solução: Observe que é bissetriz do ângulo agudo formado por e . Mais ainda: ela é bissetriz também do ângulo OPV (caso prolonguemos por ). Além disso, também é bissetriz desse ângulo. Desta forma, como a bissetriz é única, e coincidem e assim , e são colineares.
Exemplo (Cone Sul 1997)[]
Seja uma circunferência de centro , um diâmetro dela e um ponto qualquer em distinto de e de . Seja a interseção da perpendicular traçada por a . Sobre a reta se marca o ponto , de maneira que é a metade de e não pertence ao segmento . Por traçamos a paralela a que corta a reta em .
Chamamos de o ponto de interseção das retas e .
Provar que , e são colineares.
Solução: Provaremos que as retas e coincidem. Observe que , de onde segue que e são paralelos. Sabemos que existe somente uma reta paralela a que passa por . Se mostrarmos que é paralelo a , podemos concluir que e coincidem.
Uma das maneiras de mostrarmos um paralelismo é procurarmos alguma semelhança. Se mostrarmos que os triângulos e são semelhantes, podemos concluir que e são paralelos, de onde segue que é paralelo a .
Vamos relacionar algumas dessas medidas desses triângulos para ver se conseguirmos alguma informação. Como e são paralelos, segue que os triângulos e são semelhantes e com isso,
Conseguimos ainda alguma outra relação entre esses lados? Como e são paralelos, segue que . Além disso, . Desta maneira, e são semelhantes pelo caso . O interessante dessa semelhança é que ela também envolve e . De fato,
Como é a metade de , segue que
Se substituirmos em :
Com isso, é ponto médio de . Se mostrarmos que é ponto médio de , provaremos que os triângulos e são semelhantes. Mais ainda, como e serão colineares, poderemos concluir que e são colineares.
Mas como o triângulo é isósceles e é perpendicular a , segue que é ponto médio de e assim e são paralelos.
3ª Estratégia: Provar que a Desigualdade Triangular não vale[]
Se provarmos que a desigualdade triangular não é válida, então os pontos não podem formar um triângulo. Desta forma, eles são colineares.
Exemplo[]
Sejam e duas circunferências de centros e , respectivamente. Se elas forem tangentes em um ponto , mostre que , e são colineares.
Solução: Suponha que , e não sejam colineares. Então eles formam um triângulo. Sejam e os pontos de intersecção da reta com as circunferências e , respectivamente. Com isso, se e forem os raios das circunferências e , respectivamente, então e .
Desta maneira,
Mas isto contradiz a desigualdade triangular. Logo, , e não formam um triângulo e por isso são colineares.
4ª Estratégia: Provar que eles formam ângulos OPV[]
Sejam uma reta qualquer, e pontos fora dela (cada um em um semiplano diferente), , e pontos sobre ela ( entre e ). Se , então , e são colineares.
Exemplo (OBM 2000 - 3ª Fase - Níveis 2 e 3)[]
Em uma folha de papel a reta passa pelo canto da folha e forma um ângulo com a borda horizontal, como na figura . Para dividir este ângulo em três partes iguais, executaremos as seguintes construções:
a) inicialmente, marcamos dois pontos e sobre a borda vertical de modo que ; pelo ponto traçamos a reta paralela à borda (figura );
b) a seguir, dobramos o papel, ajustando-o de modo que o ponto coincida com um ponto sobre a reta e o ponto coincida com um ponto sobre a reta (figura ); chamamos de o ponto com o qual coincide.
Mostre que as retas e dividem o ângulo em três partes iguais.
Solução: Você pode estar pensando: "poxa, essas dobras só vão atrapalhar minha vida". Não elas não vão. Pelo contrário, elas vão te ajudar lhe dando várias informações legais sobre o problema. Para nos ajudar vamos nomear alguns pontos da figura. Considere a reta sobre a qual é feita a dobra e o ponto de encontro desta reta com o "lado de baixo" do retângulo (conforme mostra a figura). Tome ainda o ponto de intersecção de com e a intersecção entre e .
Considere . Provaremos que e também são iguais a . Vamos calcular outros ângulos em função de . Como e são paralelas, segue que . E a dobra? Ainda não usamos ela. Observe que coincide com . Assim, , de onde segue que .
Resta provarmos que . Para as contas ficarem mais fáceis, seria interessante se , e são colineares. Para isto, faremos o seguinte: provaremos que . Para isto, calcularemos ambos em função de .
Observe que, como e são paralelos,
Para encontrarmos , vamos encontrar ângulos próximos a ele. Para nos ajudar, usaremos novamente a dobra a nosso favor: afinal, ela preserva ângulos. Por causa disso, podemos concluir que .
Além disso, observe que se encontrarmos , podemos determinar . Note que
.
Desta maneira, , e são colineares. Isto vai ser útil para terminarmos o problema: provaremos que . Para isto, mostraremos que é bissetriz do ângulo .
Sabemos que é altura do triângulo . Se provarmos que também é mediana, ele também será uma bissetriz. Repare que a dobra preserva medida. Como AB=BC, segue que .
Portanto, é uma bissetriz do triângulo e com isso, .
5ª Estratégia: Provar que um dos pontos pertence a uma reta[]
Se provarmos que um ponto pertence à reta , então e serão colineares.
Exemplo (Cone Sul 2010)[]
O incírculo do triângulo toca os lados e em e , respectivamente. Sejam e os circuncírculos dos triângulos e , respectivamente. As retas e cortam em e , respectivamente. Seja a reta . Defina e de modo análogo. Prove que as retas e determinam um triângulo cujos vértices pertencem aos lados do triângulo .
Solução: Sejam e pontos médios de e , respectivamente. Provaremos que e coincidem com as retas e , respectivamente. Isto provará que o triângulo formado pelas retas e tem todos os seus vértices pertencentes aos lados do triângulo .
Provaremos aqui apenas que coincide com a reta . Os outros casos são análogos. Para provarmos que as retas coincidem, basta mostrarmos que e pertencem a . Sabemos que é paralelo a (pois é base média). Assim, se mostrarmos que e são paralelos, provaremos que pertence a .
Seja o incentro do triângulo . Para facilitar, provaremos que e são colineares (veremos depois o porquê deste fato nos ajudar). Para isto, mostraremos que pertence à reta . Como faremos isso? Observe que pertence a . Ou seja, é suficiente provarmos que é o ponto de encontro entre e . Para isto, iremos considerar o ponto de encontro entre e e mostrar que e coincidem.
A estratégia aqui será a seguinte: provaremos que , o que mostrará que e coincidem. De fato, se eles não coincidissem, teríamos um ângulo externo de um triângulo maior que um dos ângulos internos (o que não pode acontecer).
Observe que como e são pontos de tangência, segue que e assim o quadrilátero é inscritível, de onde segue que pertence a . Mas sabemos também que também pertence a . Logo, é inscritível e como é ângulo externo, segue que
Provaremos também que . Comecemos observando que . Vamos procurar encontrar as medidas de em função dos ângulos do triângulo . Se aplicarmos o Teorema do Ângulo Externo no triângulo ,
Vamos calcular e em função dos ângulos do triângulo . Como é bissetriz do ângulo ,
E quanto a ? Observe que e são pontos de tangência, de onde segue que . Assim, pelo Teorema do Triângulo Isósceles, . Se voltarmos a ,
Como a soma dos ângulos do triângulo é , segue que
O que demonstra . Desta forma, , o que mostra que e coincidem, ou seja, e são colineares. E por que este fato nos ajuda? Vejamos!
Como e enxergam o mesmo arco em e (pois é o raio do incírculo e é tangennte a ele em ), segue que .
Além disso, é o ponto médio da hipotenusa do triângulo . Assim, , de onde segue que . Pelo Teorema do Ângulo Externo no triângulo e pelo fato de que também é bissetriz de ,
Desta forma, é paralelo a . Mas também é paralelo a . Logo, pertence a . Analogamente, pertence a , de onde segue que a reta coincide com . O mesmo vale para e .
6ª Estratégia: As Diagonais de um Paralelogramo se Encontram nos Seus Pontos Médios[]
Em particular, dois vértices opostos de um paralelogramo e seu ponto médio são colineares.
Exemplo (Cone Sul 2014)[]
Seja um quadrilátero inscrito em uma circunferência de centro . Este ponto está no interior do quadrilátero de modo que os ângulos e são iguais. As diagonais desse quadrilátero se cortam no ponto . Por são traçadas a reta perpendicular a e a reta perpendicular a . Areta intersecta em e a reta intersecta em . Seja o ponto médio de .
Mostre que , e são colineares.
Solução: Vamos usar um resultado aqui: que as diagonais de um paralelogramo se encontram no seu ponto médio. E como isso nos ajuda? Provaremos que é um paralelogramo. Como é o ponto médio de , segue que ele deverá ser o ponto médio de , ou seja, , e serão colineares.
Para isto, começaremos mostrando que é paralelo a . Observe que as retas e coincidem (já que passa por e ). Como é perpendicular a , basta provarmos que também é. Como o triângulo é isósceles de base , é suficiente mostrarmos que é ponto médio de .
Vamos descobrir mais informações sobre o problema antes de traçarmos uma estratégia. Como os dados do enunciado nos ajudam? Consideremos . Como é isósceles, segue que .
Além disso, o ângulo central é o dobro do ângulo inscrito, de onde segue que
Se usarmos isto e o fato de que no triângulo , descobriremos que . E como isso pode nos ajudar? Observe que é a hipotenusa do triângulo e queremos mostrar que é ponto médio dela. É suficiente mostrarmos que ele é equidistante a dois dos pontos.
Considere o ponto de encontro entre e . Se fizermos , então . Mas , de onde segue que e assim . Porém , de onde segue que . Logo, e assim é ponto médio da hipotenusa do triângulo .
Assim é perpendicular a , de onde segue que e são paarelelos. Analogamente, é ponto médio de e com isso e são paralelos. Portanto, é um paralelogramo.
Exemplo (Cone Sul 2017)[]
Seja um triângulo acutângulo cujo circuncentro é . Sejam os pontos e tais que:
e estão em semiplanos distintos com relação a
e estão em semiplanos distintos em relação a
Demonstrar que é ponto médio de .
Solução: Nem ao menos sabemos se e são colineares. Para isto, vamos usar o truque principal dessa seção. Como podemos usar esta ideia do paralelogramo se não temos um? Basta vermos se conseguimos montar algum na figura (e é importante que uma diagonais seja e a outra passe por ). Para isto, precisamos de lados paralelos.
Considere . Então e assim
Desta forma, como , segue que e são parelelos. Além disso, como , segue que
Mas , de onde segue que e são paralelos. E agora que já temos dois paralelismos, conseguismos criar um paralelogramo? Sim: basta tomarmos o ponto de intersecção entre e . Assim será um paralelogramo. Se mostrarmos que é ponto médio da diagonal , então ele será ponto médio de e isto concluirá o problema.
Como é um paralelogramo, seus ângulos consecutivos são suplementares e assim segue que
Desta forma, é inscritível. Como , podemos concluir que é o diâmetro do circuncírculo e como é o centro, segue que ele é o ponto médio de e assim também será ponto médio de .
Outras Estratégias[]
Podem haver outras maneiras de provarmos uma colinearidade.
Exemplo (OBM 2019 - Nível 3)[]
Sejam e duas circunferências de centros e , respectivamente, que se cortam em dois pontos e . Suponha que a circunferência circunscrita ao triângulo intersecte novamente em e novamente em . Suponha ainda que está no interior do triângulo . Demonstre que é o incentro do triângulo .
Observação: Você pode encontrar uma solução para esse problema no canal maravilhoso do Luciano aqui. Existe uma outra solução para esse problema na página de Incentro.
Solução: Se provarmos que é bissetriz do ângulo , por simetria, será bissetriz de e teremos mostrado que é o incentro do triângulo . Já que temos várias circunferências, é legal pensarmos sobre ângulos na circunferência.
Chamemos a circunferência circunscrita ao triângulo de e vamos pensar um pouco nela. Sabemos que a bissetriz de um ângulo corta a circunferência circunscrita no ponto médio do arco. Mas já é ponto médio do arco (já que ). Portanto, é suficiente mostrarmos que , e são colineares. Para isso, se , basta mostrarmos que o arco mede para terminarmos o problema (afinal se prolongarmos até devemos formar o arco de medida ). Um ângulo que enxerga esse é arco é . Procuraremos calculá-lo em função de .
Observe que ainda não usamos o fato de que pertence a . Sobre essa circunferência, (já que o enxerga) e assim (afinal é centro de ). Notemos que , e é um lado comum aos triângulos e . Desta forma, estes triângulos são congruentes pelo caso e assim , de onde segue que .